Foto: Fernando Ferreira/Ceará SC

Muita coisa mudou em Porangabuçu desde o retorno das atividades do futebol feminino. De 2018 para cá, taças foram conquistadas, vitórias empilhadas, decepções tiveram de ser digeridas, mas algumas coisas se mantêm. O sonho pelo acesso à primeira divisão do futebol feminino nacional é a principal delas. Outra semelhança é a continuidade de uma atleta que não nasceu em terras cearenses, mas que vive o Mais Querido de uma forma tão significativa que se sente natural de nosso estado. Jady conversou com o cearasc.com e falou sobre sua história em Porangabuçu e os sonhos que tem com a camisa do Vozão.

Nossa camisa 7 é natural de São Pedro, uma pequena cidade do interior do Rio Grande do Norte. Em meio aos pouco mais de 6 mil habitantes de sua terra natal, a atacante vivia o sonho de jogar futebol desde muito cedo e, depois de passar por algumas etapas para sua formação, se tornou profissional no ano de 2017. Durante o período de maturação no esporte, teve de se dividir entre o seu sonho de jogar profissionalmente e o da mãe: que ela estudasse em busca de uma formação. 

“Meus primeiros contatos com o futebol foram aos sete anos, ainda com meninos. No início, jogava só com meninos e no futsal. Aos onze anos, fui para o campo e joguei campeonatos amadores até bem pouco tempo. Me profissionalizei há cinco anos e estou há quatro aqui no Ceará. 

Minha mãe não me apoiava tanto no início, ela queria primeiro que eu estudasse, terminasse meu ensino médio, fosse para a faculdade para ter um futuro mais garantido, digamos assim. Meu pai, sim, sempre me apoiou, até porque também já tinha jogado”, afirmou. 

Ainda que pudessem parecer coisas distintas, Jady conseguiu unir os seus desejos pessoais com os anseios de sua mãe. Depois da conclusão do ensino médio, a, hoje, atacante passou a cursar enfermagem e, durante o curso, fez com que o futebol contribuísse com a conquista do diploma. Já formada, a atleta ingressou em um novo curso, pausado para a busca do maior sonho de sua vida. Um projeto adormecido, mas que ainda será posto em prática, segundo a atleta. 

“Eu sou enfermeira de formação. Cursei enfermagem e, durante meu curso, consegui 50% de desconto por conta do futebol. Já depois de finalizar essa formação, consegui uma nova bolsa, dessa vez de 100% para educação física. Quando estava no sétimo semestre da faculdade, recebi o convite para me profissionalizar no futebol, parei a faculdade e passei a me dedicar ao esporte. Eu ainda pretendo voltar para a faculdade e conciliar com o futebol. Ia fazer isso há dois anos, mas a pandemia atrapalhou. Espero conseguir voltar o quanto antes”, pontuou. 

Chegada ao Ceará
A profissionalização de Jady no futebol aconteceu no Vitória, clube de pernambuco. Até então, a atleta jogava competições amadoras. Em 2018, a camisa 7 do Mais Querido chegou ao Time do Povo para escrever uma das histórias mais duradouras do futebol feminino alvinegro. Já são quase cinco temporadas e um desejo latente no peito da atleta: levar o Mais Querido à elite da modalidade. 

“Eu cheguei ao Ceará em junho de 2018. Fazia pouco tempo que eu tinha me profissionalizado no futebol. Desde então, sou muito feliz aqui e tenho o sonho de subir o clube para a primeira divisão do futebol nacional, que é onde ele deve estar. Eu não nasci aqui, mas me sinto cearense. Pretendo subir esse ano e permanecer aqui por muitos anos”, disse. 

É impossível falar dos últimos anos no futebol feminino do Time do Povo sem relembrar as ocasiões em que o Alvinegro bateu na trave na busca pelo acesso à Série A1. Jady esteve nas três partidas decisivas e ressaltou que isso ainda é um trauma, mas que trouxe consigo ensinamentos muito relevantes. 

“É uma ferida aberta. No ano passado foi muito dolorido. Nos outros anos foi muito ruim, mas ano passado foi mais complicado. Saí de campo arrasada e passei mais de um mês para que eu fosse tentar digerir tudo. O que conforta é que cada derrota é um aprendizado. Com certeza, esse ano estamos mais fortes, mais focadas e todo mundo sabe que estamos devendo isso e estamos trabalhando para finalmente alcançar esse sonho”, citou. 

Jady e o restante do elenco permanecem em pré-temporada e contam os dias para que, em maio, inicie a caminhada em mais uma edição do Campeonato Brasileiro A2. Até lá, o trabalho é de preparação para que as feridas sejam sanadas e o sonho torne-se realidade.

Matheus Pereira / Departamento de Comunicação - CSC