Foto: cearasc.com

Desde a paralisação dos campeonatos e treinos no CT de Porangabuçu, por conta da pandemia de covid-19 no País, foram 76 dias de pausa. A partir de então, até que as atividades presenciais retornassem, todos os treinamentos aconteceriam de forma virtual por meio de videoconferências. 

A ideia era minimizar os prejuízos causados pelo longo período sem as atividades presenciais. O acompanhamento de controle médico e nutricional também era feito de forma remota. Após análises dos questionários diários respondidos por atletas, relatórios de nutrição eram elaborados. Mesmo a distância, esse monitoramento facilitava na síntese de planos nutricionais para cada jogador. 

Para momentos diferentes, estratégias diferentes. Se foi desafiador o controle de atletas durante a paralisação, na retomada das atividades presenciais, o setor de nutrição, confrontado por uma situação inédita de pausa longa, redesenha uma metodologia nutricional para esse novo processo que passa o futebol brasileiro. 

O cearasc.com conversou com a nutricionista Camila Mazetto para saber como tem sido esse novo momento e como o setor tem agido como agente ajudador nesta nova fase. Confira!

 

cearasc.com: Com essa paralisação, qual foi a importância de manter esse acompanhamento remoto com os atletas?

Camila Mazetto: Foi bastante importante. Era assim que a gente conseguia acompanhar os atletas. Mesmo de uma forma remota, a gente teve controle de todas as refeições que eles faziam por meio de inquéritos. A gente manteve esses questionários agora no retorno das atividades, visto que virou um hábito. Conseguimos individualizar o atendimento ainda mais. Os questionários na pausa eram mais qualitativos. Agora, desenvolvemos ainda mais a questão qualitativa, mas também quantitativa. Eles precisam preencher, inclusive, a quantidade de alimentos que consomem, coisas mais específicas. Dessa forma, a gente consegue emitir relatórios individuais, identificando todo o perfil de calorias, macro e micronutrientes. Tudo isso a gente consegue identificar e chamar atenção do atleta a nível do que ele precisa aumentar ou reduzir na alimentação. Isso facilita a gente com a suplementação também.

 

cearasc.com: Como tem sido o protocolo de segurança no manuseio dos alimentos e suplementos?

CM: A gente faz a suplementação pré e pós-treino, tudo de maneira individual e descartável para a segurança dos atletas. Só o nutricionista faz a desinfecção das garrafas utilizadas, que são esterilizadas. Estamos na segunda fase, onde o grupo está um pouco maior, mas conseguimos fazer tudo de forma segura e individualizada.

 

cearasc.com: A pausa sem treinos foi muito longa, muito maior do que as pausas de férias. Isso muda em algo a programação do setor de nutrição? Existem cuidados extras nessas condições diferenciadas de retorno?

CM: Nenhum atleta de alto rendimento fica tanto tempo parado, sem competir. Mas, com os treinos online, a gente manteve, de certa forma, os atletas ativos. Todos eles, de forma geral, não voltaram completamente destreinados. Talvez fosse o que se esperaria em função de tanto tempo sem treinos de campo. Outro cuidado é o controle de carga de treinos. A fisiologia nos passa todos os dados de gastos calóricos, quilômetro percorrido, sprints. Todas essas informações chegam até a gente para que individualizemos ainda mais a suplementação e/ou alertas na alimentação.

 

cearasc.com: Tão importante como as áreas de preparação física, a nutrição tem papel importante nesse desempenho em campo do grupo. Fala um pouco da importância direta da nutrição na performance dos atletas em campo.

CM: É fundamental a integração com todos os outros setores. Todo feedback de atletas e desses setores é importante. A gente tem essa preocupação de que o atleta esteja se alimentando bem em casa, já que as refeições no refeitório ainda estão suspensas. Por questões de segurança, estamos oferecendo apenas itens que conseguimos ter higienização adequada, sem deixar que ele fique desamparado a nível de alimentação. Estamos cuidando muito da parte de hidratação. Treinos pela manhã são mais quentes, e isso pode interferir na desidratação. Tudo é feito com muito cuidado para não correr risco de contaminações. Além de tudo isso, mandamos alguns suplementos para as casas dos atletas. A gente identifica quais as necessidades de cada um e prescreve baseado nisso. Alguns precisam otimizar recuperação, outros já precisam baixar percentual, outros aumentar a massa muscular e por aí vai. Tudo isso, por pior que tenha sido essa pausa, aproximou muito os profissionais do atleta. Ajudou ainda mais nesse processo de individualização no atendimento. No futebol, se tratou por muito tempo os jogadores de forma coletiva, mas somente o jogo é coletivo. No restante, são posições diferentes que demandam energia e gastos de formas diferentes. O atleta de futebol joga um esporte coletivo, mas deve ser tratado como um ser individual, verificando todo o processo fisiológico dele. Isso é ótimo. O próprio atleta acaba percebendo o aspecto positivo desse monitoramento individual e se dedica ainda mais para melhorar sua performance.