Felipe Santos/cearasc.com

Há um mês desde a retomada dos treinos presenciais no CT de Porangabuçu, e sem a definição, ainda, de datas para a volta das competições, o elenco do Ceará passa por um período de inter-temporada nunca antes vivido. O clube segue seguindo medidas preventivas impostas pelo Governo do Estado e demais órgãos de saúde

Desde a último confronto na Arena Castelão (Ceará 2 x 1 Sport – 15/03), já sem a presença do torcedor, somam-se 109 dias sem bola rolando em campo. Desse tempo, 76 dias foram sem atividades presenciais, o que exigiu de toda comissão técnica estratégia extremamente diferenciada no retorno dos atletas.

Para além do protocolo de segurança estipulado para minimizar possibilidades de contágio de covid-19, a comissão técnica precisou planejar, desde então, quais os tipos de exercícios que seriam executados com o grupo. Carga gradativa, dieta diferenciada, novos ciclos de exames clínicos, testes de performance e, obedecendo às medidas médicas, evolução monitorada de atividades em campo.

O cearasc.com conversou com o preparador físico Eduardo Balallai para saber como foi a realização do planejamento de treinos com atletas durante o período de isolamento e agora, com o este novo desafio após a volta das atividades no CT. Confira!

cearasc.com: Nessa pausa, qual a principal dificuldade encontrada para manter, de certa forma, o grupo de atletas ativo?
Eduardo Balallai: É um período atípico. Nunca tivemos tanto tempo longe dos treinamentos e competições. Tivemos que nos adaptar. Uma das formas que encontramos foi enviar planilhas de treinamentos. No decorrer desse tempo, também disponibilizamos aulas online, basicamente visando a manutenção da força muscular e o condicionamento cardiorrespiratório. É óbvio que esse tempo todo de inatividade nos levaria a perdas. Então, não poderíamos deixar de fazer esses treinamentos. E conseguimos, sim. Se não foi o cenário ideal de estar em uma academia, no campo, mas conseguimos diminuir esse impacto desse período de inatividades.

cearasc.com: Na sua avaliação e após todos os testes realizados, como o grupo voltou depois desse período longe dos treinos presenciais?
EB: Os atletas são bem conscientes e profissionais. O atleta sabe da necessidade de se manter ativo durante a pausa. O que podemos constatar agora no retorno é a quase normalidade. Durante as avaliações, nós conseguimos mensurar esses níveis de força e eles ficaram bem próximos aos níveis anteriores, de antes da parada.

cearasc.com: Com esse período de paralisação bem maior do que o de uma pré-temporada, por exemplo, quais as especificadas para treinos de força nesse momento, até que os jogos retornem?
EB: Força e potência muscular são valências importantíssimas para o atleta de alta performance. Durante esse período de ‘destreinamento’, era uma preocupação nossa a manutenção ou, pelo menos, uma perda menos significativa disso. Porque até então, não sabíamos quanto tempo iríamos ficar inativos. Os índices de força e a potência muscular demoram um pouco mais a cair se comparados aos índices do rendimento cardiorrespiratório. Mesmo não tendo o cenário ideal de treinos, a manutenção dessas atividades, duas, três vezes na semana, nos deu uma garantia de que conseguiríamos manter esses níveis de força similares aos da antes da parada. E foi o que podemos constatar.

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: Talvez muita gente pensa que os treinos de força ajudem só na estrutura corporal para melhorar índices de velocidade, embate no um contra um, disparos, arremates, roubadas de bola. Fala um pouco sobre os treinos de força como agente preventivo de lesões.
EB: Historicamente, o treino de força era baseado muito no empirismo; havia muita discordância entre os preparadores físicos em relação às metodologias. Com os estudos, esses mitos caíram por terra. Hoje, está mais do que provado que o treino de força melhora todas as valências físicas no futebol, além de ajudar na prevenção da incidência de lesões. É impossível você evitar lesão, pois ela é multifatorial. Mas alguns estudos já falam que os treinos de força reduzem em até 1/3 da incidência das lesões. Além disso, esses treinos melhoram os sprints, saltos, acelerações e desacelerações dos atletas. E isso é de suma importância para o jogo de futebol. Mas não é só o treino de força que vai prevenir lesões. Trabalhos de mobilidade e propriocepção feitos todos os dias e a junção de todas outras abordagens nos exercícios nos levam à diminuição da incidência de lesão.

cearasc.com: O treino de força no pós-lesão é uma alternativa boa para facilitar no processo de recuperação?
EB: Dependendo do tipo e grau de lesão, o quanto antes nós levarmos esse atleta a fazer uma atividade de força, é benéfico para que ele retorne mais rápido aos treinamentos normais. Esse treino de força recupera equilíbrios musculares, corrige assimetrias e diferenças de força que venham acontecer. O objetivo é recuperar o atleta, deixando-o nos níveis de aptidão física similares ao anterior da lesão. Outra característica do treino de força é a manutenção ou diminuição substancial do percentual de gordura, até mesmo mais do que o treinamento aeróbio. No caso do futebol, não buscamos aumento de massa muscular. A parte aeróbia ajuda nisso também, mas é contemplada mais pelos próprios treinamentos em campo.